Historia Prof. Sueli

3 ano

3 ano

GOBINEAU

Época, vida e obras de Joseph-Arthur, Conde de Gobineau

Joseph-Arthur, Conde de Gobineau (1816-1882), nascido em Ville-d'Avray, na França, e falecido em Turin, na Itália, diplomata francês, escritor, etologista e filósofo, sua teoria do determinismo racial teve uma grande influência no desenvolvimento de políticas racistas na Europa. Vivendo em Paris, a partir de 1835, tornou-se funcionário público e deveu o inicio de sua carreira à sua cultura e ao posto de secretário do escritor e estadista francês Alexis de Tocqueville quando este foi ministro em 1849. Como diplomata, Gobineau serviu em Berna, Hanover, Frankfurt, Tehran, Rio de Janeiro, e Stockholm.

Gobineau foi também um apreciado autor de histórias, e de livros sobre a História e de crítica literária. Porém, a obra que o tornou mundialmente conhecido foi o seu Essai sur l'inégalité des races humaines, em quatro volumes, publicado de 1853 a 1855.

Gobineau comparou o cérebro do homem nas diferentes etnias e assumiu que havia uma relação entre seu volume e o grau de civilização.

Segundo ele, a mistura de raças era inevitável, e levaria a raça humana a graus sempre maiores de degenerescência, tanto física quanto intelectual. É atribuída a Gobineau a frase "Eu não acredito que viemos do macaco mas creio que estamos indo nessa direção".

Ele postulava a superioridade da raça branca sobre as demais, e nesta distinguia os povos Arianos, os alemães, representando o povo mais civilizado. Sustentou a teoria de que o destino das civilizações é determinado pela composição racial, que os brancos, e em particular as sociedades arianas floresciam desde que ficassem livres dos pretos e amarelos, e que quanto mais o caráter racial de uma civilização se dilui através da miscigenação, mais provável se torna que ela perca a vitalidade e a criatividade, e mergulhe na corrupção e imoralidade.

As teorias de Gobineau não eram totalmente novas, inserindo-se em uma discussão que tivera origem no humanismo renascentista e nas observações de cientistas à época dos grandes descobrimentos marítimos.

Igualmente não ficou só na sua posição, pois na mesma época do Essai homens como o compositor alemão Richard Wagner, o filósofo Friedrich Nietzsche, politicos como Houston Stewart Chamberlain, este nascido na Inglaterra e genro de Wagner, e Adolf Hitler aderiram ao que foi então chamado "gobinismo".

Somente a raça branca ou "Ariana", criadora da civilização, possuía as virtudes mais elevadas do homem: honra, amor à liberdade, etc., qualidades que poderiam ser perpetuadas apenas se a raça permanecesse pura. Em sua opinião os judeus e os povos mediterrâneos haviam degenerado devido a muita miscigenação ao longo da história. Somente os alemães haviam preservado a pureza ariana, mas a evolução do mundo moderno os condenava também aos cruzamentos interraciais e a degenerescência.

O povo ariano teria habitado um ponto da Ásia, basicamente o Cáucaso e a região montanhosa da Pérsia central. A evidência de sua existência eram as raizes fonéticas das línguas faladas nessas regiões, remanescentes do que teria sido a língua Indo-Europea. Foi encontrada também uma inscrição do século V antes de Cristo do rei persa Darío (522-486 BC), onde declara ser rei dos persas e "da raça ariana". A palavra seria originalmente "Ayia, significando "livre", nobre" "firme" e dela deriva a palavra Irã., hoje o nome do país que foi a antiga Pérsia. Heródoto, referiu-se aos povos do Irã ( antiga Pérsia) como arianos. A partir dessa região original, o platô iraniano, teriam conquistado o norte da Índia ao Sul e regiões da Europa, ao norte. Na Índia resultou uma divisão entre a cultura ariana no norte e a cultura dravidiana ao sul, algo hostis uma com a outra.

 

Reações ao Essai sur l'Inegalite des Races HumainesAs teorias de Gobineau foram em geral bem recebidas, e se tornaram de certo modo populares nos países europeus. Os povos que ele discriminara pouco reagiram, e os comentaristas da correspondência por ele mantida com Dom Pedro II não aludem ao que o monarca teria dito em resposta às queixas do francês, ou mesmo como crítica às suas idéias. Fora do Brasil, um enérgico protesto veio do Haiti, um país de população quase cem por cento negra, e que, como todos os países africanos e afro-americanos, sentiu-se humilhado com a nova filosofia racista da superioridade racial. Antenor Firmin, um afro-haitiano, publicou em Paris, em 1885, portanto apenas três após a morte de Gobineau, um monumental ensaio em francês, de 650 páginas, cujo título é uma paródia ao ensaio de Gobineau: L'Egalite des Races Humaines ("A igualdade das raças humanas"). Joseph-Antenor Firmin foi jornalista, escritor, advogado e ministro das relações exteriores do presidente Hyppolite no Governo do Haiti. Um rebelde em certa época na história de seu país, foi exilado em St. Thomas, nas ilhas Virgens, território norte americano. Além da obra em resposta a Gobineau, publicou em 1905, um livro de grande repercussão, sobre o presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, nas relações com a República do Haiti, profetizando uma intervenção americana que mais tarde de fato aconteceu.

O livro salienta as conquistas da cultura negra desde o Egito antigo e os países do vale do Nilo, Sudão e Etiópia, até a primeira "República Negra" do Haiti, como evidência do potencial dos povos africanos. Porém, enquanto o livro racista de Gobineau foi traduzido em inúmeras línguas e viria a influir na formulação da ideologia nazista, o livro de Firmin ficou na obscuridade, apesar de sua inegável importância como obra de antropologia e antropologia filosófica.

 

Impressões do Rio. A segunda missão diplomática de Gobineau foi ao Brasil, onde chegou em 1876, enviado por Napoleão III, e onde permaneceu pouco mais de um ano como representante do governo francês. Segundo os que comentam as relações do Imperador Pedro II com os intelectuais europeus, este teve particular amizade com Gobineau. Na volumosa correspondência trocada entre ambos, Gobineau nunca deixou de referir-se a sua vinda ao Brasil como uma péssima experiência.

 

Obras Além do Essai sur l'inégalité des races humaines, saído nos anos 1853 a 1855, Gobineau escreveu outras obras em História e literatura. Seus livros de ficção incluem o famoso Pléiades, de 1874; Souvenirs de voyage, de 1872; e Les Nouvelles Asiatiques, de 1876. As obras Histoire des Perses, 2 vol., de 1869; Religions et philosophie dans l'Asie Centrale, de 1865; e La Renaissance, de 1877.


A Era dos Impérios – História Econômica do Imperialismo

Introdução

A palavra Imperialismo já foi utilizada de várias maneiras diferentes ao longo da história. No presente trabalho, trataremos do imperialismo como um fenômeno histórico ocorrido no período entre 1880 e 1914. Nesse período o mundo, com exceção da Europa e da América, foi dividido entre as potências imperiais: Grã-Bretanha, França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Itália, EUA, Japão e Rússia. Mais de um quarto do mundo estava sob o controle direto, ou como área de influência de pouco mais de uma dúzia de países.

 O fenômeno do Imperialismo possui diversas dimensões, entre elas a econômica, a política, a cultural, a ideológica e a psicológica. Pretendemos fazer uma análise da história e da teoria econômica do Imperialismo, de acordo com a tradição marxista que se ocupou do tema. Também procuraremos explicitar as principais contribuições dos principais pensadores que deram uma contribuição inigualável à compreensão do modo de funcionamento da economia capitalista a partir do Imperialismo.

Portanto, adotaremos o Imperialismo como conceito da Economia Política, considerado-o, portanto, “como uma séria de estruturas e relações políticas e econômicas que constituem um marco doutrinal ou um modelo que nos ajuda a compreender o que os homens denominam impérios1”.

Para termos um panorama mais geral e mais histórico, retomamos os aspectos histórico-econômicos importantes que servem para explicar porque ocorreu o Imperialismo2.

Em primeiro lugar, temos a criação, pela primeira vez de uma verdadeira economia mundial. O capitalismo atinge até as regiões mais remotas do planeta e qualquer espaço do mundo passou a ser de interesse para as potências capitalistas.

Em segundo lugar, o acesso às fontes de matéria prima – como alumínio, cobre, estanho, petróleo, borracha, etc. – passou a ser cada vez mais importante após a chamada Segunda Revolução Industrial.

Outro fator importante, nesta época, foi o surgimento do consumo em massa de alimentos nas grandes potências. O consumo de alimentos como cereais, chá, café, açúcar e cacau foi muito maior do que em qualquer outra época. Como esses alimentos eram provenientes das colônias, foram garantidos grandes lucros a quem as controlava.

Todos esses aspectos levaram a uma competição no plano internacional entre os países industrializados, dando origem, assim ao Imperialismo.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é o de que se viu, como nunca antes uma convergência muito grande entre economia e política, ou seja, o Estado defendendo diretamente os interesses das empresas.

Desenvolvimento Econômico do Imperialismo

De acordo com Lênin, o Imperialismo não passa de uma das fases do capitalismo: a sua fase monopolista. Seria a tendência do capitalismo a eliminar a concorrência em direção ao monopólio, descrita por Marx, que teria levado ao Imperialismo. O que pretendemos aqui é explicitar os mecanismos econômicos que explicam como uma economia monopólica leva ao Imperialismo.

Para tanto, construiremos um modelo simplificado do modo de funcionamento de um sistema de indústria capitalista com alto grau de monopólio3.

Neste modelo, haveria uma grande diferença entre custo e preço, o que significaria uma alta taxa de lucro e salários muito baixos.

Em caso de queda da demanda, os monopolistas tenderiam a reduzir a produção e não os preços, de modo a maximizar seus lucros.

Isso levaria a uma situação permanente em que a capacidade produtiva, ou seja, as fábricas e os equipamentos, ficará subutilizada, criando uma grande capacidade excedente. Além disso, também haverá um grande aumento no exército industrial de reserva.

Em quarto lugar, tenderia a haver uma redução na taxa de novos investimentos, pois os monopólios já estabelecidos relutariam em expandir a capacidade produtiva e não haveria novas firmas entrando nessas áreas. Isto levaria a uma grande contradição. Por um lado, a concentração da riqueza provinda dos monopólios tende a aumentar a vontade de investir. Por outro lado, as oportunidades de investimentos são reduzidas elo próprio monopólio.

Essa taxa decrescente de investimento levaria a um estreitamento do mercado da indústria pesada, enquanto o desemprego em massa diminuiria o consumo. Assim, o capitalismo monopolista levaria a uma queda dos mercados e uma deficiência crônica da demanda, o que agravaria ainda mias o problema da capacidade excedente e do desemprego. A indústria pesada teria seus mercados retraídos.

Finalmente a tendência seria o congelamento da configuração existente de cada ramo da indústria.

Porém, há uma maneira de resolver a contradição: a exportação do capital. Há uma busca intensificada por saídas externas para o investimento, um impulso por penetrar ou anexar esferas que se apresentam em relação à metrópole da indústria monopolista como colônias. Isso evita que o capitalismo monopolista chegue às condições acima acentuadas. É a concorrência entre os diversos monopólios nacionais das potências que causam o Imperialismo.

O monopólio traz, como conseqüência para desenvolvimento do sistema econômico, a mudança do foco de interesse de considerações de produção e custos produtivos para outras de supremacia financeira e comercial. Os ganhos nas manobras destinadas a melhorar a posição estratégica própria passam a ser mais atraentes do que quaisquer outros lucros de uma iniciativa na esfera da produção. O sistema industrial fica dependendo da concorrência monopolista.

Esse modelo de explicação econômico serve para entendermos um pouco melhor quais são as reais conseqüências derivadas de uma economia monopolista. Porém não explica em que consistiu o fenômeno do imperialismo. Para isso, o melhor caminho é recorrer aos principais autores marxistas que escreveram sobre o Imperialismo e são responsáveis pelas principais obras para se entender o funcionamento do capitalismo a partir de sua etapa monopolista4.

Rudolf Hilferding

Em sua obra “O Capital Financeiro”, publicada em 1910, Hilferding explicitou a maioria dos pontos ressaltados por Bukharin e Lênin. Contudo ele não colocou esses argumentos em um conceito definido de Imperialismo.

Sua tese é muito simples. A competição tende a criar monopólios e estes podem controlar outras firmas pequenas com quem negociam. Portanto, há uma tendência à criação de grandes blocos de capital organizados de forma hierárquica. Os capitais industrial, comercial e bancário estão interligados, na forma de capital financeiro, nesses blocos, que são dominados por bancos. Como os monopólios não podem controlar ainda o mercado mundial, eles precisam da proteção de tarifas e eles, então, procuram estender seus mercados protegidos o máximo possível. Daí o apoio do capital financeiro às políticas expansionistas.

Ele apresenta a criação das empresas de ações compartilhadas (joint stock companies) como uma das principais modificações na função do capitalista. Essas empresas permitem uma grande concentração de capital, juntando vários pequenos capitais em um só. Isso permite que donos de grandes blocos de capital usem esse tipo de organização para controlar vários pequenos acionistas. Isso permite uma enorme concentração de poder econômico e de produção. Disso deriva uma tendência ao monopólio.

Os atores centrais no crescimento dos monopólios eram os bancos, pois eles centralizavam o capital e podiam oferece-lo como crédito, mantendo uma pequena reserva monetária. Os bancos têm uma grande interesse em promover a centralização do capital, pois isso reduz o risco de falência das empresas a quem eles emprestaram dinheiro. Ele faz uma distinção entre capital financeiro (finance capital) e capital bancário (financial capital). O capital financeiro é o produto da fusão entre o capital industrial e o capital bancário.

Hilferding dá uma grande ênfase no papel das tarifas protecionistas. Estas passaram de uma forma de proteção das industrias infantes contra a conquista do mercado interno por industrias estrangeiras para um meio de conquista de mercados externos pela industria nacional. Isso porque as tarifas definem um território nacional maior, ou seja, os mercados das colônias se tornam “mercados internos” das potências, dando-lhes privilégios no comércio internacional.

É a partir da exportação de capital que ele conecta as idéias anteriores. Para ele, o movimento do capital procurando a maior taxa de retorno é normal no capitalismo. Contudo, a exportação de capital tem características específicas, como a tentativa de superar as tarifas protecionistas dos outros países, produzindo dentro do território em que a tarifa opera. O importante, contudo, é que as “joint stock companies” permitem que subsidiárias se estabeleçam em outros países sem a emigração do próprio capitalista. A ligação entre os bancos e as industrias permitem acesso fácil ao dinheiro necessário para isso e o grande tamanho das empresas lhes davam as vantagens necessárias para construir instalações novas em outros lugares.

Nicolai Bukharin

Foi Bukharin que – em seu livro “O Imperialismo e a Economia Mundial” escrito em 1915, mas só publicado depois da Revolução Russa – colocou as idéias já existentes de Marx, Hobson, Rosa Luxemburgo e Hilferding em uma teoria completa e coerente sobre o Imperialismo.

Onde Hilferding via apenas um processo, a centralização do capital, Bukharin vê dois: a internacionalização e a nacionalização do capital. De um lado havia o crescimento da interdependência internacional da economia mundial e, de outro, a sua divisão em blocos nacionais. A contradição entre essas duas tendências levaria o sistema à guerra e ao colapso.

O comércio internacional, para ele, é apenas uma versão da divisão social do trabalho assim como a troca de bens entre diferentes empresas. Ele cria uma relação social de produção numa escala mundial. O crescimento da divisão social do trabalho e a crescente internacionalização do capital são partes integrantes da exportação de capital. Esta estabelece relações de produção não só entre unidades produtivas, mas também entre os trabalhadores e capitalistas dos diferentes países.

Ele também aponta a tendência ao monopólio como é explicitada por Hilferding, porém ele explicita o motivo pelo qual o monopólio se estabeleça em bases nacionais. Isso ocorre porque é muito mais fácil superar a competição em escala nacional do que em escala mundial. Além disso, as diferenças existentes de estrutura econômica e de custos de produção tornam acordos desvantajosos para os grupos nacionais avançados. Outro motivo é que os laços de unidade com o Estado e suas fronteiras são, em si, um monopólio sempre crescente que garante lucros adicionais.

Um ponto essencial para a teoria de Bukharin é a idéia de que os monopólios se organizam na forma de cartéis. Os cartéis são estruturas com propensão a se quebrar em dois casos. Se a força competitiva dos membros for desigual, o mais forte pode ter mais ganhos se sair do cartel do que se continuar nele. Por outro lado, se as forças relativas dos membros mudarem, o acordo da divisão do mercado pode não ser mais apropriado. Esses fatores são especialmente fortes no nível internacional, devido ao desenvolvimento desigual das nações.

Como a cartelização e a formação de monopólios prometem altos lucros e uma grande vantagem competitiva no mercado mundial, há um grande incentivo para as empresas capitalistas se associarem em uma base nacional, que garante a satisfação da divisão do mercado entre os membros do cartel. A tendência ao monopólio não significaria uma eliminação da competição, mas uma mudança na sua forma. Como ela foi praticamente eliminada no nível nacional, ela se mostra agora como uma rivalidade política e militar entre “trustes capitalistas estatais”.

 

Vladimir Ilych Lênin

O texto “Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo” de Lênin é a obra marxista mais conhecida sobre o Imperialismo. Ele é posterior ao de Bukharin, apesar de ter sido publicado antes. O texto de Lênin é um panfleto destinado a servir de base para a ação política. Portanto, ele apenas organiza e expõe a análise já realizada por outros autores, com pouca contribuição original. O que Lênin pretendia era fazer uma oposição ao Kautsky, que, segundo ele, estava levando a Segunda Internacional para uma direção totalmente equivocada.

Ele evidencia as principais tendências do capitalismo na época em que ele estava escrevendo. São elas:

  • A concentração da produção e do capital se desenvolveu a tal ponto que criou monopólios que desempenhavam um papel central na economia.

  • A fusão do capital bancário com o capital industrial, criando o capital financeiro e uma oligarquia financeira.

  • A exportação de capital adquire uma importância central.

  • A formação de blocos capitalistas monopolistas internacionais que dividem o mundo entre si.

  • A divisão territorial do mundo entre as maiores potências capitalistas.

  • A competição entre as potências levaria inevitavelmente à guerra.

  • Esta seria a última fase do capitalismo, que logo seria superado.

O principal disso tudo é sua descrição de duas principais tendências: por um lado, a exportação de capital levou a uma internacionalização da produção capitalista e a extensão de relações de produção capitalistas a todos os cantos do planeta, por outro lado, o poder se concentrou nas mãos de grandes blocos de capital financeiro e a riqueza foi canalizada para classes de rentistas parasitas.

Lênin também procurou explicar porque os trabalhadores apoiaram seus países com o começo da Primeira Guerra Mundial. Para ele, parte da classe trabalhadora se beneficiava com a posição de monopólio que seus patrões capitalistas possuíam no mercado mundial e isso explicava o apoio, que só ocorria nessa parte dos trabalhadores. Ele chamou essa categoria de trabalhadores de aristocracia operária.

Contudo um dos principais objetivos de Lênin era fazer uma crítica a Kautsky e ao Partido Social Democrata alemão. Para Kautsky, as políticas imperialistas expressavam o interesse do capital bancário e de certos grupos de monopólio, mas defendia que uma parte do capital industrial ainda tinha interesse na paz e no livre comércio. Portanto, ele acreditava que , com o apoio da classe operária, essa parte da burguesia poderia superar o imperialismo e o militarismo, garantindo a paz. Após a deflagração da Primeira Guerra, Kautsky elaborou a teoria do Ultra-Imperialismo, que seria a possibilidade de que as grandes potências pudessem fazer um acordo para explorar o mundo conjuntamente. Essa teoria poderia fortalecer ainda mais o apoio pela paz na classe dominante, pois eles enfrentariam ameaças provindas dos povos coloniais oprimidos e do seu próprio proletariado.

Para Lênin, assim como para Bukharin, a conexão entre desenvolvimento capitalista, imperialismo e guerra era a base central para sua defesa da luta pelo socialismo. É essa conexão que Lênin tenta demonstrar em seu texto, ou seja, a inevitabilidade da competição entre as potências capitalistas e o seu resultado lógico: a guerra.

 Conclusão

Assim, temos um quadro geral do desenvolvimento histórico-econômico característico do fim do século XIX e começo do século XX: o Imperialismo.Após a Grande Depressão de 1873, a economia capitalista entrou numa fase de crescente concentração do capital, com a criação de grandes monopólios ou cartéis. Para que estes não levem a uma nova depressão, se fez necessária a expansão territorial e a exportação de capital. Este capital adquiriu nova forma, com a fusão do capital bancário e do capital industrial, o capital financeiro. Esses cartéis tinham que se organizar em uma base nacional. Com isso os Estados das principais potências capitalistas entraram em um período de disputa política, militar e econômica, estabelecendo colônias na África e na Ásia, de modo a garantir seu poder e os interesses financeiros dos monopólios nacionais. Essa competição levou à primeira guerra de proporções mundiais da história, marcando de forma decisiva o futuro humanidade no século XX.


- IMPERIALISMO
RESUMO
1. Imperialismo (1870-1914), uma definição:

É o movimento do grande capital financeiro europeu em busca de novos mercados tantona Ásia, África e na América Latina. Os Estados europeus eram o grande instrumentodesse movimento, em que em alguns casos, houve ocupação militar e em outros, apenasentrada de capitais. O Imperialismo teve a sua arrancada com a crise e superprodução de1873, que leva o grande capital europeu a buscar novos mercados, matérias-primas eescoadouros para o excesso de capital na Europa. Não é à toa que a presença dasempresas é maior que a dos governos nas colônias imperialistas.

2. O Imperialismo na África:

. Quadro geral da África antes do Imperialismo: O continente é diverso antes dasincursões européias. Na região mediterrânea, existia o grande e decadente Impérioturco-otomano. Outras regiões litorâneas da África foram colonizadas desde os temposdo velho colonialismo, como Angola e África do Sul. Mas a maior parte da África nãotinha qualquer dominação estrangeira, tendo a sua lógica geopolítica e social própria. 

. Justificativa ideológica do Imperialismo: Os países europeus davam várias desculpaspara legitimar e explicar a invasão dessas regiões. As principais eram: a missãocivilizatória feita por povos civilizados sobre os povos bárbaros, a divisão das riquezasmateriais do mundo, a evangelização cristã de povos que não conheciam a verdadeirareligião e a superioridade racial dos povos brancos sobre os povos preto e amarelo.

. A divisão da África: Na colonização da África, feita antes da asiática, apenas os povoseuropeus participaram. Os principais certamente eram Inglaterra e França, quedominavam a maior parte do continente. A Alemanha, também importante, chegouatrasada na corrida imperialista, por isso, não conseguiu muitos e bons territórios.Portugal e Itália foram convidados pela Inglaterra a participar da corrida para que aFrança não dominasse regiões muito vastas e para constituírem estados-tampões entreterritórios britânicos e franceses, grandes rivais na corrida imperialista.

. Rivalidades entre europeus na conquista: Apesar do constante diálogo, dos estados-tampões e dos congressos – como o de Berlim em 1885 que tentava resolver osproblemas na dominação na África subsaariana –, houve uma série de pontos deconfronto entre os europeus na África e na Ásia também, o que constitui a principalcausa da Primeira Grande Guerra. Alguns deles são: a Inglaterra desejava construir umaferrovia ligando a sua colônia do Egito à África do Sul, o que era barrado pelaAlemanha; a França queria construir uma ferrovia cortando todo o Saara, o que foibarrado pela Inglaterra que dominava o Egito e o Sudão; França e Inglaterra brigavampelo controle do canal de Suez e pelo controle do Egito e do Sudão.

3. Consequências e resistências à dominação:

. Consequências da dominação para os africanos: Os povos da África foram deslocadosde suas terras para dar lugar a minas e plantations exportadoras, onde ainda tinham quetrabalhar em condições lastimáveis e, muitas vezes, em regimes compulsórios. Aprodução de alimentos em todo o continente foi completamente desorganizada, dandoinício aos sérios problemas de fome que remetem às fomes vividas hoje em dia. Oseuropeus ainda cobravam impostos em dinheiro dos africanos em economias não- 

monetárias, obrigando os africanos a trabalharem, muitas vezes para os europeus, parapoderem pagar os impostos. As culturas africanas foram consideradas inferiores ecultura e línguas européias foram impostas aos povos dominados. Havia, ainda, emmuitas regiões um sistema de discriminação racial, o apartheid – como na África do Sul– que considerava os africanos seres humanos de segunda classe.

. Resistências e revoltas: Em todo o continente, durante e depois da ocupação,explodiram revoltas e movimentos de resistência contra a invasão e as medidascolonizatórias. Houve revoltas à própria chegada dos europeus como a revolta zulu noSul da África ou revoltas acontecidas depois da instalação dos europeus, como asudanesa e a etíope, que conseguiram criar por determinados períodos países livres dojugo europeu.

4. O Imperialismo na América Latina:

Além da África e da Ásia, onde houve colonização com invasão militar, houve tambémpresença imperialista na América Latina, só que sem uso de forças militares. Eramexportações de capitais para esta região, que transformavam aquelas economias emdependentes das economias européias. As economias latino-americanas eramespecializadas na produção e exportação de artigos primários e importavam produtosindustrializados e capitais europeus, sob a forma de empréstimos, construção deferrovias, telégrafos etc.

 

Espetáculo damiscigenação

1LILIA MORITZ SCHWARCZ

Em finais do século XIX o Brasil era recorrentemente descritocomo uma imensa nação mestiça representando, nesse sentido,um caso extremo e singular, "J'ai remarque un fait singulier.."— dizia o naturalista Gustave Aimard, viajante francês que esteve noBrasil em 1887 — "...queje n 'ai observé qu 'au au Brésil: c 'est le changement que s 'est opéré dans la population par les croisement des races, ils sontles fils du sol".Mestiça era também a imagem que Louis Agassiz (1868:71) formava do Brasil; esse país que se tornara uma espécie de paraíso dosnaturalistas. Dizia o reconhecido pesquisador suíço: "...que qualquer umque duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal-entendida filantropia, a botar abaixo todas as barreiras que as separam, venha ao Brasil.Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças maisgeral aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagandorapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio deixandoum tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia física e mental".O Conde Arthur de Gobineau, que permaneceu no Brasil durantequinze meses em missão oficial, também dedicou palavras duras quandotratou de descrever a situação racial que observara: " Trata-se de umapopulação totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia" (in: Raeders, 1988:96).Essa visão mestiça da nação não se resumia, porém, ao olhar quevinha de fora, aos inúmeros naturalistas que aqui estiveram. Internamente o tema se reproduzia a partir de diferentes locais. Nos censos, nosjornais, nas pinturas, na visão de políticos e cientistas, raça apareciacomo um argumento partilhado, uma interpretação interna bastanteconsensual. " Formamos um paiz mestiço... somos mestiços se não no sangueao menos na alma", definia o crítico literário Silvio Romero (1888), daEscola de Recife, ao comentar " a composição etnica e anthropologica singular" da população brasileira.João Batista Lacerda (1911), então diretor do Museu Nacional doRio de Janeiro, na condição de representante de " um thipico paiz miscigenado", era convidado a participar do I Congresso International dasRaças, realizado em julho de 1911, apresentando uma tese cujo título jáera em si revelador: Sur les metis au Brésil. Nesse ensaio, o país não eraapenas caracterizado como mestiço, como se exaltava a mudança operante no local:" o Brasil mestiço de hoje tem no branqueamento em um séculosua perspectiva, saída e solução".Partindo dos recintos médicos baianos, era também com esse sentido que em 1894 Nina Rodrigues ponderava: "se um país não é velhopara se venerar ou rico par a se fazer representar, precisa ao menos tornar-seinteressante". Revelando uma posição bastante lúcida, o conhecidomédico aglutinava percepções da época. Com efeito, o que resumia asingularidade local, não era mais a flora, a fauna ou a pujança da terra,e sim uma composição racial singular, um certo espetáculo da miscigenação.O medo da degeneraçãoSaudada pelos cientistas estrangeiros como fenômeno desconhecido e recente, a miscigenação transformava-se em tema polêmico entreas elites locais. De um lado, o problema racial é a linguagem pela qualse torna possível apreender as particularidades observadas. Como bemmostrou Hobsbawm (1987), nesse contexto em que discursos raciaisvinculavam-se a projetos de cunho nacionalista, soava correto imaginaruma nação em termos biológicos, ou estimar uma futura homogeneidade, como previa Lacerda. Por outro lado, no entanto, a constataçãode que essa era uma nação mestiça gerava novos dilemas para os cientistas brasileiros. Se falar na raça parecia oportuno — já que a questãoreferendava-se empiricamente e permitia certa naturalização de diferen-ças, sobretudo sociais  —, o mesmo tema gerava paradoxos: implicavaadmitir a inexistência de futuro para uma nação de raças mistas como anossa. Isto é, o conjunto dos modelos evolucionistas não só elogiava oprogresso e a civilização, como concluía que a mistura de raças heterogêneas era sempre um erro, e levava à degeneração não só do indivíduocomo de toda a coletividade.Evidenciava-se a defasagem entre as teorias deterministas que chegavam de fora quando pensadas em função da realidade mestiça de dentroe a rigidez da teoria quando o objeto em questão era a nação brasileira.A saída foi então preconizar a adoção do ideário científico, porém, semseu corolário teórico — aceitar a idéia da diferença ontológica entre asraças sem a condenação à hibridação — à medida em que o país, a essasalturas, encontrava-se irremediavelmente miscigenado.Incômoda era a situação desses intelectuais que oscilavam entre aadoção de modelos deterministas e a verificação de que o país, pensadonesses termos, era inviável. "Devia ser difícil abrir mão da crítica externae de uma certa internalização desse tipo de visão estrangeira a respeitodo Brasil como país aberrante", afirma Roberto Ventura (1991:91).Afinal, em um momento em que se redescobria a mesma nação, eracomo obstáculos à civilização barreiras à identidade nacional que os grupos indígenas, africanos e mestiços eram incorporados (Queiroz,1989:32).Entre homens de sciencia,O mais interessante é, portanto, tendo em mente essa representação mestiça do país, entender a relevância e originalidade desse tipo deteoria que, no Brasil, conheceu seu momento de maior influência noperíodo que vai de 1870 a 1930. Modelo de sucesso na Europa demeados dos oitocentos, as teorias raciais chegam tardiamente ao Brasil,recebendo, porém, uma entusiástica acolhida, em especial nos diversosestabelecimentos de ensino e pesquisa, que na época congregavam boaparte da reduzida elite pensante nacional.O momento selecionado é particularmente significativo não sóporque aglutina uma série de episódios relevantes — o final da Guerrado Paraguai, a fundação do Partido Republicano, a promulgação da leido Ventre Livre  —, como por anunciar a entrada de novos modeloscientífico-deterministas e o amadurecimento de alguns centros de ensinoe pesquisa nacionais, como os institutos históricos, os museus etnográ-ficos, as faculdades de direito e de medicina.Nesses locais, o tema racial esteve particularmente presente, masnão de forma unívoca. Raça aparece enquanto um conceito de negociação, sendo que as interpretações variaram, assim como eram diversasas metas e especificidades de cada um desses estabelecimentos.As personagens que integram essas instituições, são esses — hoje— obscuros homens de sciencia que em finais do século XIX, e do interiordos locais em que trabalhavam, tomaram para si a quixotesca tarefa deabrigar uma ciência positiva e determinista, e, utilizando-se dela, procuraram liderar e dar saídas para o destino desta nação. Misto de cientistase políticos, pesquisadores e literatos, esses intelectuais irão se mover nosincômodos limites que os modelos lhes deixavam, haja visto que, nessemomento, indagar sobre que nação era essa significava, de algumamaneira, se perguntar sobre que raça era a nossa ou, então, se umamestiçagem tão extremada não seria um sinal em si de decadência eenfraquecimento.Raça: um conceito negociadoO fin-de-siècle brasileiro era vivenciado nesses meios, dessa maneira, com grande dose de pessimismo. Com efeito, esses cientistas, aomesmo tempo que se encontravam desiludidos com as promessas deigualdade, indagavam-se sobre as causas persistentes das diferenças entreos homens.Nos museus etnográficos de Belém, São Paulo e Rio de Janeiro,por exemplo, a ampla utilização de argumentos evolucionistas permitiuexplicar cientificamente as diferenças, classificar as espécies, localizar ospontos de atraso. Partindo dos modelos das ciência naturais, esses pesquisadores buscavam uma ponte entre as espécies botânicas, zoológicase a humanidade, que pudesse prever, como pretendia Herman von Ihering (então diretor do Museu Paulista) um desenvolvimento comum: " adegenerescencia, presente nos tifos hibridos na zoologia, pode ser com certafacilidade percebida nos grupos humanos... Longe dos tipos puros é com cuidado que deve ser analisada a miscigenação local" (Revista do Museu Paulista, 1897).Adeptos, em sua maior parte, dos modelos poligenistas de análise— que entendiam as raças como fenômenos essenciais e ontológicos,resultantes de centros de criação diversos — concluíam, esses teóricosdos museus, não só que " a evolução encontrada na natureza era exatamente igual àquela esperada para os homens" (Boletim do Museu ParaenseE. Goeldi), como supunham que " os grupos inferiores constituiam barreiras frente ao progresso da civilização". E ilustrativa, nesse sentido, a defesaque faz von Ihering em 1911, no jornal O Estado de S. Paulo, do extermínio dos Kaingang, em nome da construção da estrada de ferroNoroeste do Brasil. Utilizando-se de modelos evolucionistas e deterministas, o naturalista alemão condenava "grupos indígenas inferiores", que,em sua ótica, desapareceriam pela " mera ação da natureza". Frente aosprognósticos científicos, nada havia a obstar; nem mesmo " uma moralde fundo humanista", como afirmava Von Ihering (2).Cumpriam os museus etnográficos no país, portanto, um papelespecífico. Ao mesmo tempo em que ajudaram a popularizar no exteriora imagem de que o Brasil seria um grande laboratório racial, introduziram um olhar particular. O olhar do naturalista que classifica conjuntamente a flora, a fauna e o homem em suas produções. "A perfectibilidade humana fará seu papel no Brasil, assim como a natureza não cessa deagir nas especies vegetais e animais", dizia Goeldi na revista de seu museu,acreditando em um processo evolutivo para a desacreditada populaçãonacional.Nos institutos históricos, por sua vez — e em especial nos estabelecimentos carioca, paulista e pernambucano  —, a entrada tardia dosmodelos deterministas levou à utilização de explicações variadas: umavisão otimista, católica e patriótica, paralela a uma concepção determinista e evolutiva da nação. O resultado foi um modelo que acomodouexplicações de teor monogenista — que concebia a humanidade enquanto una em sua origem e desenvolvimento  —, mas que não se furtou arecorrer a argumentos darwinistas sociais quando se tratava de justificarhierarquias sociais consolidadas." Abrem-se-me então os olhos e percebo quetoes homens já não vivem na innocencia paradisiaca e que as theorias de JeanJacques Rousseau são meros sonhos. ...Os americanos não representam umaraça selvagem, representam antes uma raça degenerada que se tornou selvagem. ...Assim poucos séculos se passarão e o ultimo americano deitar-se-á. Senão se garantir a superioridade do sangue branco toda a população do continente definhará (Revista do Instituto Histórico de São Paulo, 1904:53-4).Nem bem descobridores, nem bem missionários, esses cientistasora encontravam uma nação a admirar, ora se debruçavam com temorsobre seu país, propondo — no lápis e papel — reformas e saídas que,em última instância, dependiam de sua própria atuação. Nesse sentido,talvez o debate tenha mesmo se concentrado entre as escolas de direitoe medicina. Instaurada uma disputa pela hegemonia e predomínio científico no país, percebem-se dois contendores destacados. De um lado oremédio, de outro a lei; o veneno previsto para uns, o antídoto nas mãosdos outros.Para os homens de direito a responsabilidade de conduzir a naçãoestava vinculada à elaboração de um código unificado, que tornassehomogêneas as grandes diferenças observáveis: " O Estado é necessário...Ê uma formação necessária... e que resulta de uma evolução social, que vinculada aos hommens de lei imprime uma única direção a sociedade... Por fim éa força o elemento gerador do Estado, ella se manifesta acima da luta dasraças ou de grupos entre nós tão heterogêneos (Revista Acadêmica da Faculdade de Direito de Recife, 1922:103). Caberia, assim, exclusivamente aoslegisladores e através do exercício da lei, unificar esse território que sequeria nação.No entanto, no caso das escolas de direito, se existiam concepçõespartilhadas, a amarra institucional não chegou a encobrir diferenças teó-ricas fundamentais: o argumento racial construído por Recife, contras-tou com a interpretação liberal da academia paulista. De fato, partiamde Recife as leituras germânicas sobre as determinações das raças e adefesa — que consagrou a figura de Silvio Romero — de uma mesti-çagem moral e física, enquanto recurso de unidade nacional. Já a escolapaulista analisava com cautela a introdução dos modelos darwinistassociais, com " a critica de quem reconhece a verdade de alguns conceito erepele os exageros desses júris consultos..." (Revista da Faculdade de Direitode São Paulo, 1906:67).As duas escolas, porém, revelaram possuir projetos bastantes coincidentes e harmônicos ora quando se tratava de defender a hegemoniada prática do Direito, ora quando se buscava garantir uma certa hierarquia social. Nesse caso, o argumento escorregava da cultura para a natureza, do indivíduo para o grupo, da cidadania para a raça.Revelador é o debate sobre a entrada de imigrantes asiáticos eafricanos, tônica centrai de várias sessões na Câmara de Deputados e deoutras instâncias atuantes durante os anos 80 do século passado. Comefeito, partiu de São Paulo a política mais restritiva e que propôs gravesentraves à introdução de mão-de-obra negra e oriental. Nesse caso, SãoPaulo demonstrou na prática o quanto era permeável às conclusões teó-ricas racistas e darwinistas sociais, tão populares em Recife. Sempre emnome de um projeto eugênico de depuração das raças, a bancada paulista— " composta pelos digníssimos bacharéis da escola paulista de Direito"(Atas, 1881) — limitou a admissão a apenas alguns países, criticandoduramente o que chamava ser "as características amorais dos africanos edos chins", entendidos como "inassimiláveis, portadores de línguas ecostumes estranhos aos nossos, praticantes do suicídio e do ópio" (Nogueira, 1984; Hall, 1976; Monteiro, 1992).Dessa maneira, enquanto na Escola de Recife um modelo claramente determinista dominava, em São Paulo um liberalismo de fachada— cartão de visitas para questões de cunho oficial  —, convivia com umdiscurso racial, prontamente acionado quando se tratava de defenderhierarquias, explicar desigualdades sociais. A teoria racial, quando utilizada, cumpria o papel de deixar claro como para esses juristas falar emdemocracia não significava discorrer sobre a noção de cidadania. Assim,se em Recife o indivíduo foi sempre entendido como uma amostra de seugrupo; em São Paulo, com a adoção de um liberalismo de cunho conservador e cada vez mais antidemocrático, a questão da cidadania como quedesaparecia e com ela a vontade do indivíduo. Como dizia uma artigopublicado em 1914 na revista da escola paulista, "o indivíduo no Brasilsempre foi letra mortal... e afinal, quem se importa".





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